Hoje sou... camionista
De volta a carga que nem o coelho da duracell depois de ter saltado para cima de uma coelhinha “playboyana”, volto em força para resgatar mais um daqueles (prestes a ser) míticos “Hoje sou…”.
Sim, vou arriscar a encarnação de mais um figura peculiar da nossa sociedade, esse elemento essencial para o desenvolvimento científico da piada fácil, graçola conveniente ou piropo convenientemente inconveniente.
Não, não vou encarnar esse indivíduo de intelecto desconhecido ao contrário do seu rego do cu, não vou falar dos nossos bravos do selvagem e cervejante mundo da construção civil, não, hoje o alvo são os herois do pedal, os camones do rádio-transmissor, os loucos da buzina… Hoje sou Camionista!
…
Acordei cedo no beliche da cabine, mesmo ao lado da minha menina, ela, como sempre, acorda perfeita com os seus cabelos da abençoados pela cor do sol e um sorriso que faz derreter um iceberg, infelizmente sinto que está na hora do adeus, até porque hoje é um novo mês e tenho de mudar de folha no calendário, bem, adeus miss Julho, Buenos dias miss Agosto!
Antes de saltar para o trono e fazer-me à estrada, aproveito para ir tomar um cafezinho (ou uma cerveja se por acaso houver tremoços) num tasco mesmo aqui ao lado, na famosa terra de cascos de rolha, depois do cruzamento ao fundo do nada.
Dou um jeito à barriga para descer pelas minúsculas escadas da cabine, cada vez mais sinto que estas escadas não foram feitas para mim, principalmente na hora de as subir.
Bato com toda a força a porta do camião TIR surpreendido, mais uma vez, pelos vidros não estarem estilhaçados, “aqueles gajos da areia quente devem saber o que fazem!”.
Atravesso a rua, evitando atropelar os veículos que se deslocam na minha direcção esforçando-se por não se desviarem a tempo, chego ao outro lado salvo mas não são pois sinto que tanto esforço provocou-me uma fraqueza.
Para restaurar as minhas reservas de glicose (e principalmente gordura) mando vir duas torradas, não fosse a primeira estar estragada e uma “meia de leite mas em vez de leite use cerveja e substitua o café por uns amendoins ou derivados”.
Após um rápido pequeno-almoço que apenas incluiu mais uma cerveja, uma leitura rápida d’A Bola, um olhar de relance pela secção “relax” do JN e um breve debate com uns ilustres desconhecidos sobre a importância do novo extremo do Benfica para a economia Global fiz-me à estrada que nem um carteirista aos utentes do metro de Lisboa, rápido e a evitar a policia!
Já estou a rolar há algumas horas e como tal decido parar para jantar.
Sim, jantar porque para cumprir prazos não parei para almoçar, tendo apenas comido duas sandes de presunto enquanto emborcava três minis SB, realizando simultaneamente a incrível proeza de conduzir com os joelhos e meter mudanças com o cotovelo.
É com orgulho que digo, “sou um Berdadeiro artista do mundo Circulense!”.
Para num restaurante de luxo, que é como quem diz, os talheres não são servidos directamente do bolso de trás dos empregados.
Peço uma punheta de bacalhau, mas como não havia aproveito e “boto abaixo” um Buxo com molho verde, bem regado com verde branco de pressão, “qualidade acima de tudo, menos do preço!”.
Após um café com cheirinho e dois “bagaços do patrão” arranco para mais duas ou três horas de camionagem profissional.
Infelizmente as ilustres serventes da estrada não pegaram ao serviço por estes lados como tal não haverá “pit stop” (podia agora inserir uma piada óbvia mas já saí da escola primária, fui expulso para ser mais correcto) para ninguém, obrigando-me a uma pequena luta de “cinco contra um” e a desperdiçar o meu último rolo de papel higiénico, a vida é chata!
Pouco antes de adormecer aproveito para fazer um pouco de exercício físico, nomeadamente, 50m barreiras até ao caixote do lixo e 50m bruços de volta, pois já só consigo arrastar-me.
O dia foi bom mas por hoje “tá feito” como tal vou ressonar para o meu beliche que cada vez parece mais pequeno dos lados, amanhã vou aproveitar para telefonar À dona para ela não se esquecer de marcar a depilação às costas, já que eu não quero chegar a casa e deparar-me com um urso.
Bem, hora de fechar a pestana e tentar ver aquela ruiva que passou por mim de descapotável ali para os lados daquela terra depois do monte.
Por agora é tudo, um grande abraço para todos que forem largos de tronco ou inchados de pulmões (um sorriso malandro acabou de se desenhar na minha cara).
Hasta meu bom povo, “para todos umas grandes férias, para os restantes, trabalhar é lixado mas necessário!”.
O meu som:
The Go! Team – bottle rocket
Prá mãe, pró pai e pró irmão…
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