quinta-feira, 19 de março de 2009

Sapatilhas

Quando eu era miúdo as sapatilhas eram todas muito parecidas, tipo todas brancas, que era a cor ideal para as crianças usarem já que elas “nem” brincavam no meio da imundice nem nada, é preciso entender que esta era uma altura em que chegar a casa com as sapatilhas cheias de lama nem era assim tão mau, tais sapatilhas tinham atacadores (o velcro era só para os bebés que não sabiam apertar os atacadores) com dois nós impossíveis de desfazer, mas mesmo, as empregadas da minha pré-escola tinham derrames cerebrais de tanto pensarem como é que haviam de desapertar tal armadilha cordácia, isto também sobrava para as mães quando estávamos atrasados para sair e dizíamos que o pé não entrava na sapatilha, ou vice-versa (penso que a tão típica e amada unhaca evolutiva portuguesa foi criada para ajudar a desfazer estes nós entre outras coisas ou pelo menos para lascar os pés e assim transformar uns 36 nuns 32 que estavam atafulhados nuns 34).

Sapatilhas estas que eram geralmente compradas na feira local e duravam sempre uma vida inteira que é como quem diz até a biqueira se rasgar toda e as ditas cujas “andarem a pedir pão” (ui-ui, que pirralho agora tristemente transformado em adulto não se lembra desta frase).

Geralmente tinham marcas boas, de lama, resina e espiche, também tinham outras, não tão boas diga-se de passagem como retruck, pami e sportex, coisas de classe entenda-se!

Usávamos sapatilhas porque éramos activos, a bola não se ia pontapear sozinha! e guardávamos os sapatos para sair ao domingo, aqueles que já têm pelo menos duas décadas devem saber o que é a roupa de domingo, também conhecida como aquela que se formos caços a usar noutro dia da semana “levamos duas lagostas prós brincos que até cuspimos dentes”, “esta roupa” estava sempre tão impecável mas tão impecável que até parecia mal nuns putos que arranjavam sempre maneira de ter chocolate, geleia ou lama espalhada pela cara, mãos e um pouco por todo o lado. Não é exagero, os bolsos naquela altura eram usados para guardar tudo mas mesmo tudo, isso de andar com dinheiro dos bolsos é coisa moderna ou fantasia antiga.

Actualmente esta juventude compra sapatilhas para lhes dar o uso de sapatos de vela, a sério, é que nem arriscam a mover uma folha caída do chão, e quando as raspam na borda do passeio ou na cara de um colega menos chegado ficam todos tristes porque “agora já não servem prá noite”, sim porque para muitos moços hoje em dia a noite é sinónimo de discotecas, no meu tempo era futeboladas na rua com paralelos a fazer de balizas e carros alheios a fazer de árbitro.

As sapatilhas hoje em dia são mais coloridas mas nem por isso são melhores, eu detesto sapatilhas cor-de-rosas, derivados muito semelhantes (aliás, tudo o que é cor-de-rosa irrita-me com excepção da pantera e algumas zonas corporais alheias).

A oferta é grande mas a mim não me convence, sapatilhas com a língua gigantesca para usar por cima das calças parecem-me caneleiras, a única maneira de eu aceitar estas sapatilhas é juntando-lhes uma biqueira de aço, cobrir de maça e enviar para a trolhice.

Regra geral tolero e até aprecio aquelas sapatilhas grafitadas mas quando estas têm a cara de um qualquer palhaço da tv já passa a barreira do abuso, estas e aquelas que brilham mais no escuro que o bling bling americano, são boas é para atear um bom fogo (e assim de repente podemos sempre juntar umas t-shirts rosa, roxas e com brilhantes ou frases mesmo muito estúpidas cujo dono nem sequer sabe traduzir).

Sapatilhas com rodinhas estão no mesmo patamar que as de amortecedores (a.k.a. as novas tilhas de um pobre guna), estas não estão mas deviam estar num patamar mais alto que assim o empregado da footlocker não lhes chegava.

Por agora é tudo, um abraço e até à próxima.

Porque sim.


O meu som:

Frightened Rabbit - Keep Yourself Warm

Citação do post:

It's way too late to be this locked inside ourselves

The trouble is that you're in love with someone else

It should be me. Oh, it should be me”

In C'mere por Interpol


Prá mãe, pró pai e para o irmão…

1 comentário:

Nuno Caetano disse...

Felizmente não sei o que é roupa de domingo.

Mas felizmente sei o que é brincar na rua, sujar as "tilhas" todas, esperar dois dias depois de as comprar e depois já podíamos jogar à bola, não passar por uma poça sem saltar lá para dentro... "etecetera" "etecetera"...

Devíamos marcar uma "saída à noite" "à antiga"...

Aquele abraço!

NC