sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Esplanadas rurais

Pois é, agora que o verão se foi, praticamente, decidi que um bom tema para “postar” seria esplanadas, mais concretamente as das terriolas, isso sim é que é, com uma ilustre vista para as cabras do Sr. Manuel, recordista nos dois hectares estrumados, recorde este apenas alcançado devido ao excelente olho, não, excelente vista para a aerodinâmica do estrume pútrido, encomendou ao Sr. Ferreira um gadanho reforçado de cabo ergonómico e comprimento ajustável à cifose degenerativa, coisas de primeira linha entenda-se.

Esplanadas estas, onde pedir um café com cheirinho não é uma opção mas sim uma triste obrigação, pelo menos a gama de cheiros é vasta indo do irritante malcheiroso ao por amor a Deus ou a mim quem é que partiu ovos podres sobre este cadáver em decomposição??

A música ambiente fica a cargo do próprio ambiente que rodeia o café / tasco / salão da carta batida / encontro da 3ª idade, nomeadamente os berros frustrados do bode por não ter cabra, bode este perito em mija de longo alcance, já tendo desgraçado pelo menos três mulheres de respeito segundo reza a lenda, a uma certa altura chegou a haver planos por parte do grupo activista da pensão em atraso para dar ao já referido bode uma velha mais carente e assanhada, que é como quem diz ainda capaz de se locomover voluntariamente, mas tais congeminações foram canceladas com o bode a recusar carne tão fora do prazo, a música ambiente também conta com a participação do Sr. Joaquim, mais concretamente com as suas reclamações sobre a mocidade fraca de espírito que corrompe o país, não tendo qualquer tipo de respeito pelos velhos e tornando o presente sempre pior que o passado.. “Dantes é que era, não havia esta ladroagem toda, isto é só toxicoindependentes e moçoilas com fogaça nas pernas”:

O cardápio embora tecnicamente não exista é constituído por várias combinações de pão, fumados e queijo não necessariamente nessa ordem acompanhados por um leque de prazeres líquidos como o venho maduro tinto fresco ou natural, em copo, caneca ou directamente pelo gargalo do garrafão (que é mais partilhado naquela aldeia que a própria tuberculose) ou à penálti, como sempre o vinho é caseiro, feito a partir da ancestral arte de “martelar” o vinho, podendo conter uvas na sua elaboração mas nada é garantido.

O atendimento, de classe, dificilmente podia ser melhor nunca tendo havido uma única reclamação sobre os empregados de balcão, o facto de não haver nenhum talvez tenha contribuído para tal mas quem sou eu para especular. A dona Lurdes, cozinheira a tempo inteiro e psicóloga autodidacta a part-time, serve e serve-se sempre que pode com um sorriso largo na foto do medalhão que traz pendurado ao pescoço, pedaço de ouro com a lembrança do falecido que de bêbado e agressivo tinha muito mas era um anjo de homem.

Anos de experiência levaram a que esta senhora, de fácil trato, conseguisse a proeza de atender três clientes, também conhecidos como inquilinos não oficiais, no espaço de uma hora, a comida é sempre fresca quando é comprada lá na mercearia da zézinha o mesmo não se podendo dizer quando chega à mesa ou balcão naqueles tão engraçados e práticos, pratos de plástico reutilizáveis. De referir que a recente regra de lavar as mãos a cada duas horas está a ser um “atraso de vida” mas pelo menos diminuiu os casos de gastroenterites na vila, também apelidados de síndrome de caga-água, apelido descoberto da pior maneira pelo Sr. Afonso adepto da biscalhada e do treinamento semi-profissional de futebol de bancada, contando com os Srs. Henrique e Santos como paineleiros alegremente alcoolizados todas segundas tardes de cada semana.

Infelizmente as instalações sanitárias estão a sofrer uma ligeira remodelação (o projecto para esta empreitada celebrizou recentemente o seu quadragésimo aniversário) como tal o riacho ou o farto matagal nas traseiras são as melhores opções para aliviar a tripa depois de comer aquela tripalhada com cheiro esquisito mas que estava boa segunda a palavra sempre correcta da Lurdinhas, apelido carinhoso que os clientes mais corajosos murmuravam por baixo da mesa. De ressalvar que tal viagem relaxante não é de estranhar numa vila habituada a limpar o cu a fetos e mirar as estrelas enquanto faz aquele xixi que procede a cama.

Nada mais sai como tal por agora é tudo..

finalmente um update nossa, afinal ainda respiro!

O meu som:

King Of Leon – closer


E agora um pouco de mim… (dejá vu?)

Citação do post:

What's in it for me

I came here for a good time and you're telling me to leave

but you don't have to say it again, I heard you the first time

by The Walkmen in "what's in it for me"


Prá mãe, pró pai e para o irmão…

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