sexta-feira, 18 de junho de 2010

fewhipe_triste

Um dia na vida de Fewhipe Triste

Mal acorda, coloca os pés fora da cama e repara em duas coisas, uma, que as unhas quando crescem muito rasgam os lençóis que nem duas ninfomaníacas cheias de piercings durante uma sessão de “acarinhamento” intensa, segundo, que acordar com música é muito agradável excepto quando é a vizinha do terceiro e, gaga desde nascença, a gritar pelo puto ranhoso que mais uma vez se esqueceu do almoço, e dos livros, e de tirar uma positiva também, “ó ó bi..bi.bi..bitóóóóóór, olha u u u catano da sandes-es de cou..cou..couratu”, nada agradável mesmo em congruência com a cara da mulherzinha, de noite até nem parece tão mal, mas mesmo só quando é lua nova e ela está a cagar no meio do monte, descontando o cheiro claro.
Acaba por se levantar com a noção que o dia estava destinado a melhorar, como tal prepara um super almoço, despeja o resto do pacote de leite para uma malga (estranhamente aparenta ter a mesma consistência de natas) e junta-lhe duas mãos cheias de cereais de fibra que mais parecem farelo, pelo menos lá na loja de produtos agrícolas garantiram-lhe que era feito para pacóvios como tal ele sabia que estava a ter um pequeno-almoço rico.
Acaba de comer e um olhar de relance para o relógio na parede revela-lhe que tinha demorado mais de quarenta e tal minutos a faze-lo, normalmente ficaria aborrecido mas desta vez nem por isso, aliás, tinha-lhe sabido tão bem o pequeno que até aparentava estar a ruminar a comida.
Dá uma saltada até ao café para beber um traçadinho e ler as notícias à borla mas quando lá chega já só circulava pelos homens do café, à semelhança da jaquina dos frangos, o 24 horas que como todos sabem se aproxima mais do reino da ficção do que da realidade (tal como um politico cumprir as promessas que faz ou o carro de um guna realmente ter os cavalos que aparenta roncar, sim, esse tigra até que faz barulho mas quando corre mais parece um gatinho a cuspir uma bola de pêlo).
Sem desanimar emborca mais outro traçadinho e faz-se à estrada até porque ia derreter o cheque do rendimento mínimo antes do meio-dia e a caminhada ainda era comprida até à feira.
A meio do caminho lembra-se que no café tinha esquecido que não bebia álcool, lembrança provocada pela água de esgoto que agora lhe corria pela cara, fruto da queda aparatosa na valeta.
Sacode os ombros e volta à minha caminhada (agora! porque quinze minutos antes tinha sido uma verdadeira corrida já que o Francisco da drogaria passou na sua fumarenta furgoneta e pediu-lhe o dinheiro das latas de diluente que lhe devia..).
Finalmente chega ao recinto da feira, coisa bonita, dividida por zonas para mais fácil orientação, os frescos eram atrás das casas de banho que por sua vez ficavam nas traseiras da tenda do Manél das peles, o lixo era despejado apenas nas valetas onde geralmente se encontravam as mulheres que têm tanto de idade quanto de mau cheiro a vender pensos e molas, um requinte requintado.

De tarde, por volta das 16h após um almoço farto em fome vai dar uns paços de dança para a danceteria “arrasta o pé”, mal entra repara que o nome se justificava já que a pessoa mais nova fora ele já ia na segunda reforma e tirando o ritmo cardíaco ninguém levantava nada, mas mesmo nada.
A certa altura chegou a pensar que aquilo até podia ficar interessante ao assistir uma competição de breakdance, infelizmente acaba por perceber que afinal eram apenas dois velhos com Parkinson a tentar sacudir as fraldas (nota de registo o mais calvo ganhou já que foi para o hospital com a anca partida).
Chega a casa já tarde, o táxi recusou-se a atender os da sua laia (seria por causa da barba de cinco semanas e o cabelo que mais parecia um anúncio do óleo Fula??), cansado e com os pés em ferida já que caminhar tantos quilómetros não é fácil, ainda por cima calçava, supostamente, o mesmo número do guna que ganhou umas novas “tilhas” ao partir dois dentes do nosso querido herói.
Ao ligar a televisão fica triste por saber que a novela já acabou (ainda por cima era o episódio final), muda de canal e anima-se com a possibilidade de ver um pouco de pornografia mas depressa apercebe-se que afinal era apenas a boca da Manuela M. Guedes.
Triste, devora as últimas bolachas de água e sal (em tempo de crise à que poupar e assim não gasta nem em água nem no sal.. nem nas bolachas já que as comprou “de esticão” a uma octogenária), enfia-se na cama que não é mais que um amontoado de cobertores, papel higiénico e migalhas e tenta adormecer na esperança que o próximo dia seja melhor.
Mesmo antes de desligar larga duas risadas fortes, uma porque arriscar dar “aquele” peido tinha sido uma má jogada e outra porque infelizmente sabia que comparado com a sua viida normal, o dia até que tinha sido um doce sonho.
Dorme fewhipe que o sol brilha para todos.. menos para ti seu Triste!

O meu som:
The Strokes – Obstinated

Citação do post:
“Did I say that I need you?
Did I say that I want you?
Oh, if I didn’t now I’m a fool you see,..
No one knows this more than me.
As I come clean.”
In just breathe by pearl jam

Prá mãe, pró pai e pró irmão..

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